Último filme da mostra dedicada ao cinema noir apresenta um interessante tributo ao gênero, que se constituiu tanto como uma obra de metalinguagem como numa pungente homenagem de um espectador aos filmes de sua predileção
Um noir dos/nos trópicos? Não propriamente. A dama do cine Shangai (BRA, 1988) inaugurou a fase auto-referencial do diretor paulista Guilherme de Almeida Prado (1954-), que, no segundo longa de sua carreira, pagou tributo a um dos (gêneros?) cinematográficos que marcaram sua trajetória de espectador, ao lado da cinematografia B, cara ao período em que o moço atuou na chamada Boca do Lixo paulista, exuberante ciclo de produção do cinema brasileiro onde Prado travou contato com figuras lendárias como o produtor/ator/diretor Davi Cardoso, o ator/produtor/diretor (e gênio) José Mojica Marins (Zé do Caixão) etc.
Longe de qualquer empreendimento antropofágico – embora não se constituindo como mero travestismo da tradição do noir -, o obscuro trabalho do bissexto Almeida Prado – cujo último lançamento, Onde andará Dulce Veiga? , data de 2007 – cabe exatamente no seu universo de verossimilhança, isto é, no ambiente sexy e chic de um dos mais ricos ciclos de criação técnico-estética da história da sétima arte. Contando com um elenco não tão espetacular assim – com destaque para Antônio Fagundes, bonitão, mas pouco impressionante em cena e para a (não-atriz) Maitê Proença, no auge da beleza, portanto, quase uma perfeita femme fatale – mas com um excelente trabalho técnico, que joga com os maneirismo do gênero que o inspirou originalmente, A dama do cine Shangai (advinha a quem Almeida Prado emprestou o título?) é um trabalho à parte da corriqueiramente tediosa filmografia tupiniquim versando sobre tradições cinematográficas que parecem funcionar melhor em ambientes nórdicos.
O filme fecha a mostra dedicada ao cinema noir organizada e realizada pelo cineclube 24 Quadros durante o mês de setembro. Ótima pedida para quem está cansado de exercícios boçais de falsa criatividade e quer aprender um pouco como se faz cinema de verdade.
Ficha técnica
A Dama do Cine Shangai
Brasil, 1988
Direção: Guilherme de Almeida Prado
Elenco: Antônio Fagundes, Maitê Proença, José Lewgoy, Jorge Dória, José Meyer, Miguel Lafabella, Paulo Mamberti, Paulo Villaça e Matilde Mastrangi
115 minutos
Onde
Vila das Artes – Rua 24 de maio, 1221, Centro.
Quando
Sexta-feira, dia 27 de setembro, a partir das 18h30min
Reveja o trailer de A Dama do Cine Shangai.
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